domingo, 20 de junho de 2010

A censura do crime organizado

Em 8 de janeiro, o Jornal do Brasil perguntava: ''Como garantir a liberdade do exercício do jornalismo investigativo num meio onde a exposição dos repórteres é muito grande, a existência do aparato técnico, por menor que seja, é necessária, e que ainda por cima não dispõe de uma cartilha de procedimentos formatada pela experiência desse tipo de jornalismo?''

A pergunta vinha a respeito das ameaças que a repórter Cristina Guimarães estaria sofrendo depois que sua série sobre o tráfico de drogas nos morros cariocas - feita em parceria com o repórter Tim Lopes - fora ao ar na televisão. O fato era agravado pelas características do agressor: ''Quem a ameaça são bandidos urbanos comuns. Tornar-se vulnerável a isso é uma gravíssima ameaça à liberdade de imprensa''.

O telejornalismo investigativo pressupõe a existência de um aparato mínimo que o distingue do jornalismo de opinião. É esse tipo de investigação que mudou, de pouco tempo para cá, a face do telejornalismo brasileiro. Ao denunciar - e provar pela imagem e pelo som - atos criminosos a televisão brasileira deu um salto qualitativo. Escapou do oficialismo a que esteve confinada durante quase 40 anos, minimizou relações promiscuas com fontes duvidosas e passou a servir melhor à sociedade.

Repórteres como Tim Lopes acabaram sendo os mais eficazes instrumentos de defesa de uma sociedade carente de qualquer outro tipo de proteção. Jornalistas tornaram-se mais confiáveis que a polícia ou a Justiça. Talvez não devesse ser assim, mas assim o é. Em meio à corrupção deslavada entre os poderosos e a uma autêntica guerra social, alguns jornalistas foram forçados a assumir o papel de heróis que usam as armas legitimas de que dispõem - e que algumas emissoras de televisão, conscientemente, os facilitam. A verdade é que um e outro estão prestando serviços insubstituíveis à cidadania.

O caso da repórter Cristina, alertava o JB, mostra a urgência de se encontrar respostas ao desafio de poder enfrentar os inimigos da população pela mera exposição de seus atos. A suspeita de que tenha acontecido um crime é um golpe contra o dever que a imprensa tem de manter o público informado.

Acossada, a imprensa combativa pode tender a recuar. Não bastasse a censura prévia do judiciário a que recentemente se tornou sujeita, ela passa a sofrer também a censura prévia da bandidagem.

Transformado em terra de ninguém, o Rio vê enfraquecida sua última instância de defesa contra os criminosos. E o telejornalismo combativo corre o sério risco de ceder lugar ao antigo servilismo aos poderosos - talvez ao crime organizado, que é de fato quem detém o poder.

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